Nerds?
“Ah sim, aqueles seres excluídos socialmente, feios, quatro-olhos, sem vida amorosa e loucos por computadores e jogos (e nada além disso).”
Esse tipo de estereótipo já está mais do que na hora de cair por terra, e tem muita gente que já compreende que nerds são muito mais do que isso, porém, ainda temos uns alienados que acreditam que isso é a suprema verdade.
Bem, mas o que isso tem a ver comigo? Começaremos quando eu era criança, ainda morando no interior de São Paulo, com cerca de 10 anos de idade. Eu podia me considerar uma nerd? Na verdade, eu nem sabia o que era isso… Mas eu, com certeza, me encaixava no perfil de CDF. Eu tinha obsessão com notas altas e cadernos passados a limpo. Vamos voltar no tempo um pouco mais ainda, na 2ª série, e veremos que eu brincava de Cavaleiros do Zodíaco com meus amiguinhos na hora do recreio… Sim, eu adorava Cavaleiros! Não perdia um episódio sequer na extinta TV Manchete. Eu podia ter amiguinhos, mas as amiguinhas achavam esse comportamento nada adequado e muitas faziam piadas maldosas que toda criança faz.
Eu cresci sendo CDF até a 6ª série, quando eu tive uma série de mudanças pessoais (inclusive de cidade, ainda no interior paulista). Deixei o meu lado “quero-ser-perfeita” não de lado, mas escondido em algum canto remoto na minha consciência, pois continuei a ser boa aluna, mas eu vi que não precisava me matar para isso (pelo menos não na época da 6ª série). Cidade nova, amigos zero. Foi aí que meu gosto por “coisas estranhas” se acentuou. Comecei a ouvir mais rock ‘n’ roll, gostava de coisas fantásticas, ocultas, um gosto pouco compatível com as pessoas “normais” da escola em que eu estudava.
Mudei de escola no colegial, e lá havia um grupinho de nerds RPGistas, jogadores de Vampiro: a Máscara. Eu conhecia as pessoas do grupo, algumas até eram da minha classe, e vejam só, eu adorava vampiros (lembrem-se do meu interesse por coisas fantásticas). Porém, minha tentativa de entrar para o mundo do RPG foi vetada por esse grupo, que não deu muita importância para minha curiosidade em conhecer o mundo deles, e eu, muito dramática, cortei todas minhas relações com o RPG depois deste episódio (ou ao menos acreditava que tinha feito isso). Eu passei a não gostar de RPG e achava que era coisa de gente chata. Mas vejam! Foram VOCÊS, RPGgistas do Brasil, que fizeram isso com uma pobre pré-adolescente que apenas queria um grupo de iguais!
Nesse meio termo, conheci a paixão da minha vida: o heavy metal. No começo eu tinha medo do Eddie, mas quanto mais eu ouvia metal, mais eu gostava e mais eu queria ouvir. Comecei classicamente, como a maioria dos “iniciados”, com o metal melódico (Angra, Avantasia, Blind Guardian, Nightwish) e mais clássico (Iron Maiden, Judas Priest). Pulei para o gothic/symphonic metal (vale lembrar – ou não – que eu parecia um urubu nessa época, graças as roupas pretas que dominavam meu armário). Tive a fase extrema, em que gostava mais de death, thrash e black metal. Eu experimentei várias vertentes do heavy metal e não podia mais deixá-lo pra trás. Eu amo heavy metal e provavelmente nunca deixarei de ouvi-lo. Hoje, anos mais tarde, eu pude definir as bandas que gosto e que não gosto de ouvir, sem a influência de ninguém. Ser um(a) headbanger novato(a) é um problema, você é muito suscetível a influências, sejam elas boas ou más, e tem medo de perder seu grupo, o qual você tanto se identificou, pois quando se começa a ouvir metal, você acaba conhecendo as pessoas que também gostam muito rapidamente. Hoje eu não ando com mais ninguém dessas turmas, e quando você descobre que não precisava ser como eles queriam, é uma ótima sensação de liberdade. Goste de Arch Enemy e Tarja Turunen ao mesmo tempo, se quiser!
Nessa época, eu gostava de jogar Age of Mythology e Heart of Darkness ao som de heavy metal… Talvez eu não tivesse escapado do mundo nerd assim tão fácil. Meu primeiro namorado era jogador de RPG e eu dizia pra ele: “Não gosto de RPG”. Acho que isso não ajudou muito o namoro… (Vamos pular aqui alguns anos da minha vida, em que eu estudei muito para o vestibular e nada interessante aconteceu – em relação ao contexto nerd de que estou falando).
Após o vestibular e as aprovações, me mudei sozinha para o Rio de Janeiro para estudar. Cidade grande, quente, cheia de gente, pessoas que gostam de praia, calor, sol, que implicam com meu sotaque… Estaria eu indo para um rumo mais torto ainda na minha vida?
Bem…
Eu conheci o Daniel um pouco depois de ter me mudado e acho que não existe ninguém mais nerd que esta pessoa. Não, ele não sabe de um assunto nerd, mas sim sobre uma gama infinita de assuntos nerds… E toda vez que eu ia na casa dele, no início do nosso namoro, eu ficava olhando as cartas de Magic: The Gathering que ele deixava na mesinha ao lado da cama e ficava me perguntando o que aquilo deveria fazer de tão interessante. Elas eram tão bonitinhas! (Nota: Daniel não se conforma de meu interesse em jogar partir da beleza das cartas). Hoje em dia eu jogo (ou tento jogar) Magic, e estou muito querendo um deck de Eventide! Graças a isso, na faculdade, eu continuo sendo a estranha que era desde a 2ª série. Tenho o livro de Vampiro: o Réquiem (trauma sendo superado?), e entendo cada dia mais sobre regras, termos e afins. Adoro dados. E fui ao EIRPG (Encontro Internacional de RPG) e me diverti imensamente. E eu descobri, ao ir num outro evento de RPG, que a maioria esmagadora dos jogadores/mestres gosta de heavy metal. Era tudo uma questão de tempo, não? O bom filho à casa torna…