Dia 2 de agosto morreu o One Manga. Há uns meses, foi a vez do htmlcomics. Ambos eram repositórios online de centenas de gigabites de quadrinhos piratas. E o melhor, eram disponibilizados ali mesmo, no navegador. Sem downloads, programas especiais ou torrents.
As editoras devem ter ficado loucas quando descobriram. Imagina só calcular a “grana perdida” de todos esses títulos ali, liberados. Se cada clique são alguns dólares a menos em seus bolsos, imagine centenas de milhares de cliques? Infelizmente, não dá pra calcular esse tipo de coisa.
Agora que esses sites foram derrubados pelas donas dos direitos (o que não é errado), o que seus usuários vão fazer? “Comprar as revistinhas!”, você diz.
Pena que, na maioria das vezes, não funciona. A grande vantagem desses sites de repositório era justamente agregar volumes antigos. O povo viciado nos últimos volumes se reúne em comunidades menores, usando basicamente torrents de curta duração ou via IRC pra espalhar o volume recente e depois tirá-lo do ar. Conseguir de forma pirata número antigos é muito mais complicado que buscar os recentes.
Eu sou/era um leitor assíduo desses sites justamente para ver as revistas antigas. E falo isso sem falsidade. Coleciono um mangá (Naruto), tenho mais 3 coleções completas aqui em casa. Compro Lanterna Verde todo mês, assim como tenho várias coletâneas encadernadas, praticamente todas que a Panini foi lançando. Isso sem contar as pilhas e mais pilhas de X-Men que eu tenho, mas não compro mais.
Agora, eu li 20 anos de revistas da DC no htmlcomics em alguns meses. No One Manga eu li o Bleach todo (descobri que não valia a pena comprar mesmo ^^) e estava na metade da ótima e gigante Jojo’s Bizarre Adventure (esse vale o link). Em nenhum momento eu deixei de comprar as minhas revistas mensais, nem vou deixar de ler sem pagar os que eu já lia em livrarias, agora que os sites foram mortos.
Pirataria? Sim. Não tem um lugar para eu ler o backlog de números antigos dos comics da DC. Não tem nem em português (acho que nem toda em inglês) o Jojo’s Bizarre Adventure. Não tenho opção. Repare que a maioria das revistas eu poderia ler sem problema em livrarias. A Saraiva tem todo mês os últimos volumes dos mangás e comics aqui do Brasil; é só ir lá, pegar e ler sem pagar nada.
O principal detalhe dessa história toda, e a mais preocupante na nossa sociedade moderna e capitalista, é que essas são minhas únicas opções. Músicas e livros, e até filmes, que foram os primeiros a sofrer com a migração do analógico para o digital, já são facilmente encontrados na internet. Não falo de versões piratas, e sim métodos oficiais de você conseguir o mesmo conteúdo, com a facilidade do meio digital.
Tirando a Marvel, que tem um serviço de assinatura digital, não existem muitas opções para se ter acesso a esse conteúdo. Grandes distribuidoras como as DC e a Shueisha TINHAM que ter um serviço assim. Pessoas que já leram uma época, largaram o hobby e querem se atualizar. É exatamente o público desses sites. Garotos que nem liam revistinha na época que grandes histórias aconteceram. Gente que simplesmente quer facilidade, não o produto material. Pessoas que não se importam com a ação de colecionar. As editoras economizariam horrores de produção e distribuição.
E muito melhor nesses ataques seria, ao derrubar o site ilegal, direcionar o povo para o lugar correto.
“Olha, você sabe que lá era ilegal. Que tal pagar $10 por mês e ter acesso ao mesmo material, só que com qualidade maior, traduções de verdade e dando apoio aos artistas que você gosta? Falando nisso, olha aqui esses 100 volumes (da nossa coleção de 50.000) abertos para você olhar e falar por ai como somos incríveis?”
Não tem isso. Agora, os órfãos dos sites piratas só vão deixar a leitura e o interesse pela propriedade intelectual dessas empresas diminuir ou morrer, ou ir catar a pirataria em outro lugar. Quase nenhum vai virar um consumidor real.
Há quase 2 meses, o Phil do Ambrosia cantava essa pedra, e fiquei de olho. É uma pena que no nosso mundo conectado e digital, você TENHA que recorrer a pirataria para ter acesso a produtos que poderiam facilmente estar dando lucro para seus donos.
Excelente análise, Balard.
Me impressiona como algumas empresas têm grande dificuldade de entender que seu modelo de negócio, se não mudou completamente, está bastante alterado pelas novas mídias e novos hábitos dos consumidores.
Entender isso pode ser o diferencial entre o sucesso ou o fracasso.
No fundo, estes momentos de transição servem para mudar de lugares os atores do negócio. Muitos pequenos viram grandes porque conseguem visualizar um novo cenário fora da caixa.
Abração,
Nelson
Eu apoio os artistas da forma que for possivel. eu compo a edição nacinal de Berserk, Claymore, Full Metal Alchemist e alguns outros.
Mas tem cada vez mais titulos saindo no Brasil, e estranhamente, MENOS titulos que eu realmente gosto por aí.
Então eu recorro a internet pra ler manga.
Um dos meuz favoritos é One Piece. Não perco um capitulo.
Foi trazido pra cá no passado, por uma editora que não respeitava muito seus cliente e acabou fechando.
Hoje, eu leio manga no Manga Reader.
Se não for aconselhavel, delete o comentario. XD
Voce obviamente não está informada, mas para as editoras americanas (em especial a DC comics) não é interessante e nem bem visto os leitores terem acesso as revistas antigas. Dessa forma eles podem reciclar essas histórias.
No ver deles é mais interessante que você compre as revistas de um periodo X até um periodo Y (cerca de 15 a 20 anos) e depois PARE DE LER PARA SEMPRE. Nas palavras do próprio editor Dan DiDio eles querem é acabar com os fãs Die Hard (os duro de matar que compram todos os meses, independente do lixo que seja) para pegar um público novo.
E o mesmo vale pro oriente. Ninguem tem interesse que você olhe um bleach e diga: “nossa é igual ao Yu YU Hakusho!”. Assim que eles renovam as histórias. Duvida, vá a banca esse mês para comprar uma nova encarnação de Evangelion, cuja série original tem menos de 20 anos e veja tudo que você já viu sendo contado novamente. Ou cavaleiros do zodiaco, ou qualquer uma dessas histórias extremamente populares e repetitivas. Dragon Ball é praticamente um gênero de tantos clones que tem.
Sob alguns aspectos eu até admiro o objetivo. Sem comparações ninguem notaria a repetição, e assim é mais fácil garantir o lucro, o problema é achar algo original em todas as fases da sua vida que pode durar mais de um século.